quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Metrô de BH: 25 anos de promessas e desperdícios
Publicado: quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Promessas não cumpridas. Sazonalmente, autoridades vieram a público garantir que, dessa vez, o metrô finalmente deixaria o acanhamento da linha 1 (Eldorado/Vilarinho).


O metrô de Belo Horizonte chega aos 25 anos de operação, em agosto, em seu pior momento. Enquanto as vizinhas Rio de Janeiro e São Paulo recebem investimentos bilionários do governo federal, a capital mineira continuará limitada a uma única linha pela falta de perspectivas de expansão até a Copa do Mundo de 2014. O desperdício de dinheiro público é outro dado vergonhoso desse sistema de transporte que se propõe "de massa" na capital mineira. Nos últimos dez anos, foram gastos R$ 84 milhões em obras inacabadas e em projetos fadados ao registro no papel.

As promessas de criação das linhas 2 (Barreiro-Santa Tereza) e 3 (Savassi-Pampulha) se repetem há dez anos, quando a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) liberou R$ 24 milhões para estudos de viabilidade dos dois ramais. A obra rumo ao Barreiro chegou a ser iniciada, com serviços de terraplenagem, desapropriações nas áreas de domínio da linha - que teria 17,5 km e 11 estações - e construção daquela que seria a Estação Amazonas.

Mas, em 2004, por falta de repasses de verbas pela União, a linha 2 parou. O que já havia sido gasto - cerca de R$ 60 milhões - nunca mais será recuperado. Para piorar, terrenos voltaram a ser invadidos, materiais foram saqueados e estruturas foram depredadas nesses últimos sete anos. Além disso, o projeto sofreu alterações. Agora, a linha não mais chegará ao Calafate, mas, em um túnel sob a avenida Amazonas, seguirá até a região hospitalar.

Promessas não cumpridas. Sazonalmente, autoridades vieram a público garantir que, "dessa vez", o metrô finalmente deixaria o acanhamento da linha 1 (Eldorado/Vilarinho). Em maio de 2008, o então governador Aécio Neves anunciou que a implantação das linhas 2 e 3 já tinha o "aval do (agora ex) presidente Lula e que, em breve, ele assinaria um convênio com o governo do Estado".

Participaria também desse convênio a iniciativa privada. A expectativa era que empresas investissem 38% dos R$ 3,5 bilhões necessários (R$ 1,33 bilhão) para a criação das linhas 2 e 3. Na época, informou Neves, os termos do convênio foram entregues à então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que daria o sinal verde para a oficialização da parceria.

Até o prefeito Marcio Lacerda, na época secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, disse que a abertura da concorrência pública "nos próximos meses" permitiria o início das obras "ainda no ano que vem", ou seja, em 2009. Porém, a própria CBTU alertou que a operação deficitária do metrô seria um empecilho aos investidores. Em 2008, a União aplicou um socorro de R$ 38 milhões para manter o metrô de BH. Acredita-se que esse valor seja de R$ 50 milhões anuais atualmente.

O governo mineiro não vê outro caminho para a expansão do metrô senão a estadualização. O secretário de Transportes e Obras Públicas, Carlos Melles, garante que se forem liberados R$ 1,1 bilhão pela União, o Estado disponibiliza R$ 400 milhões. "O restante (R$ 2 bilhões) sairia da iniciativa privada", disse. No Rio e em São Paulo, o metrô é gerenciado pelo Estado e a iniciativa privada. Neste ano, o sistema dessas cidades têm previsão de aportes de R$ 1,1 bilhão e R$ 4,8 bilhões, respectivamente.

"Belo Horizonte está, no mínimo, 30 anos atrasada" - Se for considerar o progresso do metrô, a capital mineira ainda está parada no tempo, na década de 80, época da inauguração do sistema. É o que avaliou o diretor da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô (Aeamesp), Gerson Toller, ao defender a subordinação do trem metropolitano ao Estado e município. "As coisas se tornam mais fáceis pelo fato de os gestores estarem mais próximos do problema. A obra é cara, mas é a solução em transporte nas metrópoles. Belo Horizonte está, no mínimo, 30 anos atrasada", disse.

O engenheiro Nilson Nunes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), compartilha da ideia de se ratear os custos do metrô entre Estado, municípios, União e iniciativa privada. Cada quilômetro construído consome, em média, R$ 96 milhões. "O metrô é deficitário e precisa ser subsidiado. Por ser uma obra longa, o político que liberou o recurso pode não ser o mesmo que vai inaugurar a obra, e isso pode atrapalhar", disse.

Deputados mineiros e prefeituras interessadas na ampliação do metrô se reúnem, na semana que vem, com o ministro das Cidades, Mário Negromonte, para propor um consórcio. Durante uma semana, a CBTU foi procurada pela reportagem, mas a assessoria de imprensa informou que o presidente da entidade não poderia se manifestar sobre o metrô. (TT)

Duas horas de ônibus ou 30 minutos no vagão? - Ramais 2 e 3 elevariam número de passageiros a ponto de BH superar usuários do Rio de Janeiro.

Se a linha 2 (Barreiro/Santa Tereza) estivesse em operação, o passageiro de ônibus que faz o mesmo trajeto em duas horas, nos horários de pico – e pegando duas conduções –, poderia reduzir o tempo da viagem em quatro vezes, fazendo o percurso em 30 minutos. Em situação parecida, o trecho Pampulha/Savassi, referente à linha 3, poderia ser percorrida por trilhos em 20 minutos.

A demanda reprimida por transporte eficiente é tamanha que, caso a ampliação do sistema atingisse hoje as regiões do Barreiro, Centro-Sul, Savassi e Pampulha, o número de usuários/dia saltaria dos atuais 144 mil para 800 mil, mais que o Rio de Janeiro (640 mil/dia). As informações são do Sindicato dos Metroviários (Sindimetro).

O publicitário Felipe Augusto dos Santos, 29, leva, em média, uma hora e 40 minutos entre sua casa, no bairro São Luís, na região da Pampulha, e a Savassi, na região Centro-Sul. "É muito tempo perdido. O metrô facilitaria muito o deslocamento", lamenta Santos, que cresceu escutando as promessas de ampliação do metrô.

A redução no tempo de viagem não seria o único benefício com a ampliação do sistema. Especialistas em trânsito são taxativos ao afirmar que o sistema é o único que poderia dar um fôlego no trânsito caótico. Para o engenheiro Ronaldo Gouvêa, a evolução nos últimos 25 anos foi nula.

"A linha 1 só foi concluída há nove anos. Isso significa que demoramos 16 anos para se construir 28 km de metrô. Não há nada o que festejar. Atualmente, já éramos para ter duas ou três linhas. O metrô só será viabilizado com o envolvimento dos governos federal, estadual, da União e da iniciativa privada", disse Gouvêa.

O especialista em trânsito e logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Tarso Resende, avalia que a falta de investimentos no metrô condena o cidadão a um trânsito cada dia mais congestionado. "O sistema sempre passou pelo mal de ser trocado por obras de emergência ou outras alternativas, como o BRT (Bus Rapid Transit). O argumento é sempre o mesmo, de que a obra é cara e demorada. No entanto, como ela nunca se inicia, nunca vamos ver a ampliação do metrô", disse.

O BRT é a aposta da prefeitura para o transporte coletivo. Os ônibus que trafegam em pistas exclusivas e carregam até 200 pessoas devem começar a operar no ano que vem em dois corredores viários.

No limite. Enquanto isso, os passageiros que utilizam o metrô convivem com a má qualidade do serviço, saturado nos horários de pico. Falta espaço até nas plataformas de embarque. Agora, a dona de casa Ana Cláudia dos Santos, 32, aguarda não só a ampliação do sistema. "Muitas vezes, está tão cheio que tenho que esperar um novo vagão".

Minientrevista - Jaci Campos. "Estamos operando no limite".

Quais são os principais problemas do metrô hoje?

A falta de integração completa com os ônibus do município e da região metropolitana é grave. Além disso, estamos operando no limite. No horário de pico, não cabe mais nenhum passageiro. As estações não têm segurança e a sinalização é precária.

Qual a situação dos trens que operam na capital?

A frota é francesa e é muito ultrapassada. Quando o sistema foi implementado, em 1984, os trens já eram antigos. Hoje, quando uma peça estraga, temos que pedir que seja feita quase que artesanalmente na França. Não encontramos mais equipamentos com essa tecnologia.

O senhor acredita que se o Estado assumisse o sistema a situação melhoraria?

O sistema é deficitário, e o Estado e município não conseguiriam mantê-lo.

Fonte: O Tempo-MG